Entrevista para mobilizadores.org.br

20.09.2013

18/09/2013 :: A arte como ferramenta de educação para reciclagem

 

Aliando arte e criatividade, a Ecoarte – Movimento Artístico-Cultural vem desenvolvendo diversas atividades para promover a destinação correta do lixo, incentivar o consumo consciente e melhorar a qualidade de vida nas cidades.
Criado durante o III Fórum Social Mundial, em 2003, o movimento agrega mais de 50 artistas de teatro, música, dança, artes plásticas e arquitetura, em diversas atividades de sensibilização e educação ambiental.
Nesta entrevista, a atriz e integrante da Rede Mobilizadores, Karina Signori, fala sobre a Ecoarte e sobre seu personagem, a Recicleide, que utiliza figurino e adereços coloridos e feitos com materiais recicláveis e chama a atenção do público para a importância da destinação correta dos resíduos recicláveis, cantando, dançando e fazendo malabares.
Rede Mobilizadores – Qual o papel da arte na formação de cidadãos conscientes e responsáveis?
R:. Historicamente, a arte é um instrumento sensibilizador e de transformação social. A EcoArte utiliza o fazer artístico, em suas diferentes manifestações, para ecoar uma cultura ecológica de respeito ao ambiente e aos demais seres vivos. Busca despertar consciências e motivar a participação, promovendo o exercício da cidadania, isto é, incentiva que cada um exija seus direitos, mas que também assuma seus deveres na vida em sociedade.
Rede Mobilizadores – Em que consiste o Movimento EcoArte? Quando foi criado e em que estados acontece? Quem integra o movimento?
R.: O Movimento EcoArte é um movimento artístico-cultural por um mundo sustentável, justo e solidário. A proposta surgiu no III Fórum Social Mundial, em 2003, agregando mais de 50 artistas de teatro, música, dança, artes plásticas e arquitetura, em diversas atividades. Todas as pessoas que se manifestam artisticamente por meio de temas socioambientais fazem parte, mesmo sem saber, deste movimento que acontece em todo o Brasil. Muitas pessoas expressam seu amor à vida para melhorar realidades, e essas práticas artísticas precisam ser estimuladas, pois são uma interessante estratégia de mobilização social.
Rede Mobilizadores – Como e quando surgiu a Recicleide? De que forma interage com a sociedade e a sensibiliza para questões socioambientais?
R.: Após minha formatura em Artes Cênicas, me ocorreu a ideia de fazer uma personagem que tratasse do tema resíduos sólidos. Essa inspiração veio com o nome: Recicleide. Fiz articulações e, em 9 de setembro de 99, realizamos a primeira apresentação no aniversário de 9 anos da Coleta Seletiva de Porto Alegre.
A partir daí, a proposta foi evoluindo, a história de Reciclópolis foi ganhando novos personagens e novas parcerias foram se formando. A Recicleide interage com públicos de diferentes faixas etárias, de forma interativa, divertida e dinâmica, com figurino e adereços coloridos e feitos com materiais recicláveis. Utiliza elementos da técnica do “clown” (tipo de palhaço), toca pandeiro, canta, dança, faz malabares, enfocando o cuidado que devemos ter com a Terra, nossa Mãe e fonte de Vida!
Com o passar do tempo, outros temas foram sendo incorporados. Por intermédio de intervenções cênicas, palestras teatralizadas e vivências, a EcoArte promove reflexão, incentiva práticas simples e diárias que podem melhorar a realidade, como o aproveitamento da água da chuva, produção de alimentos em quintais agroflorestais, economia e reuso das águas, destinação adequado dos resíduos, e o cuidado com a Terra, nossa mãe e fonte de vida!.
Rede Mobilizadores –  Como é a atuação da Recicleide no que diz respeito a destinação correta dos resíduos?
R.:  A Recicleide motiva a campanha “ReCiclar é Legal!”, visando sensibilizar e mobilizar cada um para que coopere com a coleta seletiva, repense seus atos, reduza ao máximo o consumo, reutilize com criatividade, e promova a re-conexão dos ciclos de vida dos materiais. Ela ressalta as inúmeras vantagens dessas práticas, bem como o aspecto da legislação, contribuindo para a efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos – Lei 12305/2010.
Rede Mobilizadores – Que tipo de praticas são incentivadas pela personagem e pela campanha? Quais os desafios enfrentados e como vencê-los?
R.: Para começar, é preciso cuidar da água, protegendo as nascentes, evitando desperdícios e a contaminação. Por isso, a personagem motiva a separação  das águas servidas e o reaproveitamento das águas cinzas, ou seja, aquelas com restos de sabão de pias, chuveiro, máquina de lavar, por meio da técnica do círculo de bananeiras*. Promove o plantio de alimentos com base ecológica; desperta o interesse pelo que se  consome (procedência, ingredientes…), “pois somos o que consumimos, o que pensamos, falamos, fazemos, e somos também o  resíduo que produzimos”. Além disso, divulga a compostagem e o minhocário para os resíduos orgânicos, que correspondem a cerca de 50% do “lixo”  das grandes cidades; a transformação do óleo de cozinha em sabão, a entrega dos resíduos eletrônicos para instituições que  os destinem corretamente; e incentiva cada um a se colocar no lugar do outro para, juntos, construirmos uma  sociedade mais solidária e cooperativa.
Como desafios temos a falta de articulação e de apoio para realização do trabalho. Como o projeto aborda temas de interesse público, esperávamos ter mais apoio dos órgãos públicos e de outras entidades que trabalham com estas temáticas, bem como a  aprovação dos projetos com a Recicleide em editais culturais. Para vencer estes desafios é preciso que as pessoas que  avaliam as propostas tenham visão e estejam sensíveis a esta demanda na construção de cidades sustentáveis.
Rede Mobilizadores – De que forma a coleta seletiva pode favorecer a inclusão dos catadores?
R.:  A coleta seletiva do material reciclável limpo e seco pode trazer dignidade ao trabalho dos catadores, que tem realizado um  importante serviço para a sociedade, evitando que muitos recicláveis sejam simplesmente descartados; promovendo economia  para os cofres públicos, aumento da vida útil dos aterros, e contribuindo para a saúde do Planeta. Na maioria dos municípios  brasileiros ainda não há coleta seletiva, mas, em muitos, há catadores. Sendo assim, as pessoas podem perguntar o que  é coletado e doar esses materiais, fazendo uma boa ação, pois, como diz a Recicleide: “Quem muda o destino do “lixo”, muda o destino da  gente”.
Rede Mobilizadores – O que sugere para estimular os cidadãos a separar os materiais recicláveis?
R.: Evitar a mistura dos resíduos, tendo a prática de colocá-los na lixeira certa: reciclável, orgânico e rejeito. E é bom lembrar que apenas o rejeito, o que não tem jeito mesmo, não pode ser reaproveitado, deve ir para a coleta domiciliar. A Recicleide reforça a urgência de que cada um assuma sua parcela de responsabilidade na gestão dos resíduos, pois é um dever previsto em lei.
Rede Mobilizadores – Qual a importância de parcerias para um trabalho de educação ambiental capaz de fomentar a participação social?
R.: A formação de parcerias é fundamental e vai definir a abrangência das ideias e ações propostas. “Quem quiser cooperar comece imediatamente… nós iremos conquistar um bom futuro no presente”. Vamos ser parceir@s nessa!!!?
www.recicleide.com.br
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*1 Círculo de bananeiras – de fácil construção e manejo, o círculo de bananeiras trata a água localmente, faz compostagem dos resíduos orgânicos e produz alimentos, tudo num círculo de dois metros de diâmetro. Como as bananeiras evapo-transpiram uma quantidade enorme de água – de 15 até 80 litros diários, de acordo com a estação do ano, variedade, clima local, etc. -, outras variedades podem ser plantadas no círculo para aproveitar as diferentes condições de umidade, insolação e de estrutura: espécies de sombreado podem ficar na parte interna do círculo, espécies secas do lado de fora, bem como vinhas trepadeiras podem “escalar” as bananeiras ou uma treliça colocada ao centro. Ao receber água cinza normalmente rica em nutrientes compostos por restos de alimentos (pia da cozinha), terra, poeira e suor (tanque de lavar roupa e chuveiro), além de outros restos orgânicos da casa (papel, e restos de cozinha), as plantas crescem com mais vigor, produzindo frutos muito saudáveis.
Entrevista do Eixo Participação, Direitos e Cidadania
Concedida à: Renata Olivieri
Editada por: Eliane Araujo

 

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